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2023-11-17
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Chamada para publicação dossiê: Ensino de história em tempos digitais
2023-11-17 -
Chamada para publicação dossiê: 60 anos do golpe civil-militar de 1964: história, historiografia e suas reverberações
2023-10-19“O fato é que ainda não acusamos suficientemente o golpe. Pelo menos não o acusamos na sua medida certa, a presença continuada de uma ruptura irreversível de época”. Colocada pelo filósofo Paulo Arantes, em 2010, por ocasião da publicação da coletânea O que resta da ditadura?, organizada por dois outros filósofos, Edson Teles e Vladimir Safatle, a frase já nos provocava em dois sentidos: 1. Afinal de contas, qual é o ponto de não-retorno trazido pelo golpe de 1964? Com o que aquele momento histórico rompeu definitivamente e o que é que ele inaugurou? Se temos uma história democrática tão curta e entremeada por períodos de exceção, qual é a obra da cruenta ditadura que se estabelece em seguida ao apeamento hoje caracterizado como civil-militar, capitalista-empresarial, eclesiástico e parlamentar-midiático, entre outras nomenclaturas? 2. Qual era a contribuição social historiadora naquele momento em que a ditadura tornara-se objeto de estudo de conhecidos filósofos? Não sem antes ter se convertido em best-seller pelas mãos de um famoso jornalista.
Neste ano de 2023, foi divulgada pesquisa volumosa coordenada pelo Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (Caaf), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), cujos documentos e testemunhos obtidos apontam a colaboração material, e não apenas editorial, do jornal Folha de S. Paulo com a ditadura. Segundo a pesquisa, o grupo Folha teria emprestado carros de distribuição de jornais para agentes da repressão utilizarem como disfarce em ações de perseguição e sequestros de militantes das esquerdas. À parte as querelas acadêmicas sobre os méritos autorais da pesquisa, qual é o seu impacto sobre as narrativas historiográficas já consolidadas e, especialmente, quais são os efeitos sociopolíticos dessa intensa movimentação de pesquisadores\as? De que maneira esses vestígios do passado recente se somarão ao já espectacular esforço documental empreendido pela Comissão Nacional da Verdade (2011-2014) e suas congêneres estaduais, municipais e institucionais? Tal como havia afirmado Carlos Fico em 2008, em “A ditadura documentada”, não se trata de um problema de acervo. Apesar disso, àquela época, segundo o historiador, do total dos documentos liberados, nem mesmo 5% havia sido objeto de pesquisa histórica profissional. Parece pertinente, nesta altura, interrogar criticamente as consequências do Digital Turn nas práticas de investigação ligadas ao golpe, à ditadura e ao autoritarismo. Trazendo a sua quota-parte de questões éticas, técnicas e científicas, este recente movimento global de digitalização massiva e de criação de arquivos suscita uma renovação epistemológica e interroga as relações de poder existentes nesse tipo de investigação. A onda das Humanidades Digitais questiona as próprias noções de arquivo, já não necessariamente caracterizado pela sua materialidade, e agora se abrindo a novas possibilidades epistemológicas.
Intenções e abordagens: Diante do exposto, este dossiê busca reunir e compartilhar pesquisas, projetos e ensaios que evidenciem tanto o percurso historiográfico ao longo dos 60 anos decorridos desde 1964, quanto os sentidos sociais desses textos, a forma como se tornaram parte da memória social e produtos desta, assim como das demandas de cada presente. Com base nessas reflexões sobre o contexto brasileiro, também gostaríamos de incentivar trabalhos que analisem movimentos transnacionais ou adotem um ângulo comparativo ao pensarem a história e a historiografia do golpe de Estado. Em A luta pelo passado (2017), Elizabeth Jelin mostra como a investigação acadêmica e o debate intelectual mais amplo não são compartimentos isolados, mas se constituem como aspectos da mesma realidade; imbricados a ela, também participam ativamente do debate público. Tomando a assertiva como verdadeira, no horizonte desta publicação está o triplo movimento de compreender o passado em sua historicidade e representações, discutir os diferentes processos de construção dos seus significados e, por fim, perceber as circunstâncias sociais da emergência desses sentidos.
Organização:
Mélanie Toulhoat - Investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (IHC/NOVA FCSH)
Nashla Dahás - Professora colaboradora da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP)
Paulo César Gomes - Pesquisador de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (PPGH/UFF)
DATA DE ENVIO DE TEXTOS ATÉ 15/12/2023