Cristianismo ou conservadorismo? O caso do movimento anti-aborto no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.21669/tomo.vi36.12777Resumo
O objetivo deste artigo é interpretar a atuação do movimento antiaborto no Brasil ressaltando seu caráter conservador em detrimento de sua caracterização como um movimento cristão ou antissecular. O movimento antiaborto teria surgido após a redemocratização como um contra-movimento em oposição ao avanço do movimento feminista, passando a realizar posteriormente inúmeras disputas relacionadas a
pautas feministas, LGBT, e relacionadas à defesa de direitos humanos no legislativo, no judiciário e em protestos e demonstrações públicas. O argumento principal desenvolvido neste artigo, a partir da revisão
da literatura especializada e reunião de informações relacionadas aos atores políticos envolvidos no embate em torno da questão do aborto, é de que a atuação como movimento social, e não apenas com base na
atuação de padres, missionários e bispos, fez com que fosse possível para os ativistas antiaborto aglutinar em torno de um mesmo discurso pessoas conservadoras que simplesmente se identificassem com suas
pautas independentemente de sua confissão religiosa, e para tanto mobilizam fundamentalmente argumentos seculares.
Palavras-chave: Aborto. Movimentos sociais. Conservadorismo. Cristianismo. Feminismo.
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