Haplologia variável e estilos contextuais no português de Porto Alegre
DOI:
https://doi.org/10.51951/ti.v14i31.p8-24Palavras-chave:
Haplologia variável. Português de Porto Alegre. Análise de produção linguística. LínguaPOA. Estilos contextuais.Resumo
A haplologia sintática variável (muito diferente::mui’diferente, morto de fome::mor’de fome) no português de Porto Alegre, objeto de interesse do artigo, é investigada em dados de produção linguística na perspectiva da sociolinguística variacionista (LABOV, 1972, 1994, 2001a, 2010). O objetivo é testar a hipótese de que os estilos contextuais de fala na entrevista sociolinguística, propostos por Labov (2001b), tenham efeito sobre a haplologia, favorecida na fala casual, inibida na fala cuidada. A análise quantitativa de dados levantados de dezesseis entrevistas sociolinguísticas do LínguaPOA (2015-2019), efetuada em modelos de regressão logística de efeitos mistos na plataforma R (R Core Team, 2023), não confirma a hipótese. A haplologia correlaciona-se à constituência da sílaba-alvo, à zona de residência e à renda domiciliar do informante: é favorecida por sílabas abertas, pelas zonas central e sul e por maiores níveis de renda. O exame qualitativo dos dados mostra que a maior parte das ocorrências de haplologia consta em trechos no estilo residual e sugere que esse fato não tem a ver com o estilo em si, mas com o desenho das entrevistas do LínguaPOA (BATTISTI et al., 2021). Revela também variação intraindividual em contextos idênticos ou similares, explicada pelas atividades de fala realizadas (GUMPERZ, 2002; GÖRSKI; COELHO; SOUZA, 2014) e pela proeminência relativa das palavras nos contextos de haplologia (COLLISCHONN, 2007).
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