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Travessias Interativas ➭ jul-dez/2013
n. 6 (2013)LITERATURA E HISTÓRIA: RELAÇÕES, IMPLICAÇÕES, LEITURAS
Tornaram-se frequentes os estudos que provocam relações entre literatura e outros saberes. Tais estudos têm demonstrado que a arte literária, ainda que fundamentada em trabalho autônomo da linguagem que se perfaz pela criatividade de quem compõe o texto, possui estreito vínculo com o conhecimento do mundo. Conforme no dizer de Antonio Candido, em “O direito à literatura”, a função da literatura percorre três faces: “(1) ela é uma construção de objetos autônomos como estrutura e significante; (2) ela é uma forma de expressão, isto é, manifesta emoções e a visão de mundo dos indivíduos e dos grupos; (3) ela é uma forma de conhecimento [...]” (1998, p. 176).
Nessa perspectiva, este volume da Travessias reuniu textos que tendem a possíveis relações entre literatura e história. O primeiro artigo, intitulado “Fogo morto: a dramatização social e subjetiva da decadência”, de Bárbara Del Rio Araújo (UFMG), tematiza a decadência de certa estrutura sócio-econômica, para além de rótulos acerca da prosa de ficção da geração de 30 brasileira. O artigo seguinte – “Projetando reflexões sobre a (re)apresentação da realidade em Fahrenheit 9/11, de Michel Moore” – de Márcia Corrêa de Oliveira Mariano (UNESP/São José do Rio Preto), intenta uma análise peculiar do documentário Fahrenheit 9/11, observando relações entre os fatos históricos e o ponto de vista de Michel Moore acerca dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. O terceiro artigo é o de Alexandre Francisco Solano (FNSA/UNIESP), “A escrita de uma vida: São Francisco de Assis entre a história e a ficção”; o articulista parte da biografia de São Francisco de Assis escrita por Jacques Le Goff, chegando a reflexões importantes sobre a narrativa biográfica.
Já o artigo de Morganna Sousa Rocha (UnB), “O outro pé da sereia: da história para a ficção”, parte do romance de Mia Couto para discutir a questão da ficcionalização da história. Patrícia Helena Baialuna de Andrade (UNESP/Araraquara), em “Sobre a autobiografia na literatura de exílio: um conto de Anna Seghers”, busca, conforme seu próprio dizer, “apontar para a presença do elemento autobiográfico no conto ‘O passeio das meninas mortas’, de Anna Seghers”. Eduardo Neves da Silva (UNESP/Araraquara), com seu texto “As relações nada naturais entre o amor e a nobreza no teatro de Antônio José da Silva, o Judeu”, analisa o amor e a nobreza em Esopaida ou Vida de Esopo (1734) e Guerras do alecrim e manjerona (1737), ambas de Antônio José da Silva (O Judeu), relacionando tais obras a uma transformação sócio-histórica em Lisboa. O próximo artigo – “Tensões, intercessões e dissoluções: a desestabilização do conceito de nação na literatura brasileira contemporânea” –, de Laura Assis (PUC-Rio), traz leituras acerca do tema da nação (e suas implicações heterogêneas) na literatura brasileira contemporânea.
Por último, temos o artigo de Iniciação Científica “A descoberta do frio: uma escrita afro-brasileira”, de Auliam da Silva (UFPa), sob orientação do Prof. Dr. Sérgio Afonso Alves (UFPa); o texto discute a novela A descoberta do frio, de Oswaldo Camargo, refletindo sobre a literatura afro-brasileira.
A revista apresenta, ainda, uma Resenha do livro Linguística da Internet (organizado por Tânia G. Shepherd e Tânia G. Saliés), publicado em 2013, elaborada por Flávia Danielle Sordi Silva Miranda (UNICAMP / AFARP-UNIESP).
E para abrir o volume, há uma entrevista com a professora, pesquisadora e ensaísta Nádia Batella Gotlib – expoente nos estudos de literatura e crítica – elaborada por Milca Tscherne (AFARP-UNIESP) e Alexandre de Melo Andrade (AFARP-UNIESP). Sendo destaque nos estudos de Clarice Lispector, conforme atestam os livros Clarice: uma vida que se conta (1995) e Clarice Fotobiografia (2008), Gotlib fala sobre suas pesquisas em torno da escritora. Registramos, aqui, nossos agradecimentos pela entrevista gentilmente cedida.
A todos os que se arriscarem por essas travessias, uma boa leitura!
Alexandre de Melo Andrade - Editor-chefe
Valéria da Fonseca Castrequini - Editora-adjunta -
Travessias Interativas ➭ jan-jun/2013
n. 5 (2013)POÉTICAS, SUBJETIVIDADE E ADAPTAÇÕES DA OBRA LITERÁRIA
A quinta edição da Revista de Letras Travessias Interativas (ISSN 2236-7403) ampliou o conselho editorial devido ao grande número de artigos que tem recebido. Agradecemos, desde já, aos seguintes professores, que gentilmente aceitaram fazer parte de tal comissão: Prof. Dr. Adalberto Luís Vicente e Profa. Dra. Karin Volobuef (UNESP/Araraquara), Prof. Dr. Alexandre Pilati (UnB), Profa. Dra. Fani Miranda Tabak (UFTM-Uberaba) e Prof. Dr. Luís Claudio Dallier Saldanha (Centro Universitário Uniseb/Ribeirão Preto). Agradecemos, ainda, à Prof. Dra. Tania Mara Antonietti Lopes e ao Prof. Ms. Carlos Eduardo Marcos Bonfá, que auxiliaram esta edição, avaliando textos e emitindo pareceres.
Este volume, além de selar dois anos do surgimento da Travessias Interativas, é marcado pela sua primeira avaliação CAPES (Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior), obtendo Qualis B4, o que pressupõe cumprimento de nossos principais objetivos e boa qualidade de nossas publicações.
Optamos por dividir em dois volumes os textos aprovados para publicação. Neste, selecionamos artigos que tenham relação com as poéticas – cujo objeto de estudo seja textos em verso ou prosa –, a abordagem da subjetividade e suas implicações na (re)construção da linguagem, e a transcrição do texto literário para a linguagem televisiva.
Nessa perspectiva, o primeiro artigo – “Mística e poesia, nos limites da linguagem: Hilda Hilst e as místicas” –, de Jonas Miguel Pires (UFU), traz reflexões e análises da lírica hilstiana, com vistas à relação inerente entre a mística e a poesia. Na sequência, Antônio Donizeti Pires (UNESP/Araraquara) traz, no texto intitulado “Os jogos frutais e o poema: natureza viva; natureza-morta”, análises temáticas e estruturais da poesia de Ferreira Gullar, motivado e conduzido pela presença das frutas, inerentes ao projeto poético do poeta, sem desprezar um possível recorte diacrônico de tal abordagem. Em “Política e poética do cotidiano em O corpo fora, de Francisco Alvim”, Fernando Albuquerque Miranda (UFJF) parte da “mitologia da mineiridade” para alcançar o que chama de política do cotidiano no poeta da geração marginal.
Os dois artigos seguintes são fundamentados em textos narrativos. Em “Poéticas do inconcluso em romances de Clarice Lispector”, Mariângela Alonso (UNESP/Araraquara) parte do projeto labiríntico e “escorpiônico” da autora, demonstrando uma escritura inconclusa e altamente subjetiva. Já Rosana Munutte da Silva (UNESP/Araraquara), em seu texto “Os efeitos da memória coletiva nas lembranças individuais e na formação do EU em Ciranda de Pedra”, traça uma leitura da tensão entre a vivência individual e a adesão ao grupo social, presente no romance de Lygia Fagundes Telles. No artigo seguinte, da autoria de Camila Chernichiarro de Abreu Correia (UnB), há uma análise da reprodução de “A hora da estrela” para a linguagem televisiva, conforme sugere o título: “Da novela clariceana à rede televisiva: a adaptação d’A hora da estrela em Cena Aberta”. Ainda na esteira de Clarice, surge o artigo “Simulacros de uma esposa: leitura de ‘A imitação da rosa’, de Clarice Lispector”, de Gabriela Ruggiero Nor (USP), onde apresenta nuances da personagem Laura.
Abrindo a série dos três artigos que compõem a Iniciação Científica, aparece o texto “Jorge Amado: sua trajetória e a relação de sua obra para com a TV”, de Alessandro Fernandes Alves (UNIESP/Ribeirão Preto), sob orientação da Profa. Dra. Milca Tscherne e do Prof. Dr. Alexandre de Melo Andrade. Em “Estar perto não é físico: a produção de presença da personagem ausente em Sinuca embaixo d’água”, Otávio Campos Vasconcelos Farjado (UFJF) analisa a “personagem ausente” no romance citado no título, de Carol Bensimon, utilizando teoria de Hans Ulrich Gumbrecht, contando com a orientação do Prof. Dr. Alexandre Graça Faria. Por último, aparece o artigo “O leite em pó da bondade humana, de Haroldo Maranhão: uma escrita ‘abjeto-grotesca’”, de Anna Mônica da Silva Aleixo (UFPA), sob orientação da Profa. Dra. Tânia Sarmento-Pantoja, com observação atenta ao “realismo grotesco” presente no conto.
Três Resenhas compõem esta edição. A primeira, de Natasha Vicente da Silveira Costa (UNESP/Araraquara), refere-se à obra Tapete de silêncio (2011), de Menalton Braff. A segunda, intitulada “O caminho da ficção brasileira”, de Gracille Custódio Apolinário e Wagner Lacerda (UFJF), comenta a publicação do livro Ficção brasileira contemporânea (2009), de Karl Erik Schollhammer. E a terceira, de Daniel Rossi (UNESP/Araraquara), parte da publicação de Hawthorne e seus musgos (2009), de Herman Melville.
E para abrir a edição, há uma entrevista com o escritor João Anzanello Carrascoza, cuja obra de estreia foi As flores do lado de baixo (1991), e sua última, Espinhos e alfinetes (2010). Tendo destaque na produção de contos e crônicas e acumulado vários prêmios, o autor fala de sua carreira e faz uma reflexão sobre aspectos marcantes de sua obra.
Alexandre de Melo Andrade Editor-chefe
Valéria da Fonseca Castrequini Editora-adjunta -
Travessias Interativas ➭ jul-dez/2012
n. 4 (2012)NOVAS TRAVESSIAS...
A Revista de Letras Travessias Interativas chega à sua quarta edição, que consta de sete artigos, uma resenha e uma entrevista.
Abrindo a edição, há uma entrevista com a poeta Cristiane Rodrigues de Souza concedida a A lexandre de Melo Andrade. A autora comenta questões ligadas à produção poética de modo geral e, em particular, tece comentários sobre sua obra O Dragoeiro, publicada em 2012.
O primeiro artigo, intitulado “Tessituras de histórias em As visitas do Dr. Valdez”, de Mágna Tânia Secchi Pierini (UNESP/Araraquara), faz uma leitura da obra citada, do autor João Paulo Borges Coelho, tratando de questões referentes a representação, cultura africana, tempo e narratividade. O segundo artigo – “Entre o mythos e o logos: espaço e medo em Mia Couto” –, de Jacob dos Santos Biziak (UNESP/Araraquara) analisa aspectos ligados à modernidade artística e ao enfrentamento entre o espaço “civilizado” e o espaço mítico. O artigo seguinte, de Ana Carolina Bianco Amaral (UNESP/ São José do Rio Preto), “A loucura do século XIX: o fantástico e o leitor implícito em ‘O coração denunciador’ e em ‘ O Horla’”, traz uma análise interpretativa – via Todorov – dos dois contos apontados pelo título, de Edgar Allan Poe e Maupassant, respectivamente. Já o próximo artigo, inserido em abordagem linguística, intitulado “Mulheres cristãs em Visão Missionária: uma análise discursiva”, de Daiane Rodrigues de Oliveira (UNICAMP), apresenta uma análise discursiva da revista “Visão Missionária”, intentando compreender, nela, a representação da mulher.
Os três artigos seguintes são de Iniciação Científica. O primeiro, de Marcos Vinícius de Carvalho Terra (UNIESP/Ribeirão Preto) – “A duplicidade da alma humana numa perspectiva machadiana” –, sob a orientação do Prof. Dr. Alexandre de Melo Andrade, trata de uma leitura do conto “O espelho”, de Machado de Assis, desvelando sentidos impostos pelo autor na construção do personagem protagonista. Na sequência, aparece o artigo “O gênero discursivo fábula: um estudo na perspectiva bakhtiniana”, de Brennda Valléria do Rosário (UFPA/Castanhal), com orientação da Profa. Doutoranda Márcia Cristina Greco Ohuschi; partindo de “Os dois castores”, de Esopo, a autora investiga questões referentes ao gênero “fábula” e à sua aplicabilidade no processo de aprendizagem. Por último, temos o artigo “Literatura irlandesa: patrimônio cultural”, de Claudia Parra (UNIESP/Sertãozinho), sob orientação da Profa. Dra. Adriana C. Capuchinho, que apresenta, de modo geral, aspectos marcantes da literatura irlandesa, por meio de um percurso histórico.
A revista ainda consta de uma resenha, de Jayme Ferreira Bueno (UFPR/PUCPR), sobre a obra O Dragoeiro, de Cristiane Rodrigues de Souza, publicada em 2012.
Fica aqui o nosso agradecimento a todos os que colaboraram para esta edição, seja enviando artigos ou avaliando os mesmos. Que estas novas travessias contribuam para o conhecimento e o enriquecimento crítico dos leitores.
Prof. Dr. Alexandre de Melo Andrade.
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Travessias Interativas ➭ jan-jun/2012
n. 3 (2012)LITERATURA, LINGUAGENS E EDUCAÇÃO: PERSPECTIVAS PÓS-MODERNAS
Chegamos ao terceiro volume da revista Travessias Interativas, depois de todo o esforço de nosso corpo editorial em selecionar os textos, primando pela qualidade e pela pertinência das propostas submetidas. Este terceiro volume sela um ano do surgimento da revista, que agora deixa de ser multidisciplinar e passa a ser de Letras, o que nos permitirá maior especificidade e concentração de abordagens temáticas.
Neste volume, houve alterações em nosso corpo editorial, que, pela necessidade, ganhou dois novos membros: Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (UNESP/Araraquara) e Profa. Dra. Milca Tscherne (UNIESP/Ribeirão Preto). Não posso deixar de expressar meu contentamento em ter como integrante desta comissão o professor Antônio, que, além de pesquisador brilhante, é amigo já de longa jornada, dentro e fora das trilhas acadêmicas. Obrigado pelo aceite de ambos! Igualmente agradecemos ao Prof. Silas Gutierrez pelo auxílio prestado nestes três volumes.
A partir do segundo volume, a revista agregou nova sessão, intitulada Autor Convidado, que divulga artigo ou entrevista com autores de obras literárias. Neste terceiro, inauguramos uma terceira sessão, que publica Resenhas de obras publicadas nos últimos cinco anos. Tais propostas sinalizam maior prestígio e necessidade de crescimento no âmbito da pesquisa científica, conforme atestam os inúmeros acessos realizados.
Abrindo o volume, em Autor Convidado, apresentamos uma entrevista com o poeta contemporâneo e grande amigo Alexei Bueno. Atuante na crítica e na produção literária, Alexei teve destaque em várias publicações, das quais podemos ressaltar, entre tantas outras obras poéticas, os livros As escadas da torre (1984), Poemas gregos (1985), A juventude dos deuses (1996), Entusiasmo (1997) e As desaparições (2009).
Em seguida, aparecem cinco artigos que exploram, de algum modo, o universo das linguagens, das literaturas e da educação em suas manifestações contemporâneas. O primeiro artigo, intitulado “Teatro moderno: a peça de um só ato e o diálogo dramático num monólogo polifônico português”, de Milca Tscherne (UNIESP/Ribeirão Preto), informa o modo como o drama contemporâneo de um só ato despoja-se de elementos da tradição dramática; a autora se vale do monólogo dramático A lei é a lei (1977), do escritor português Luiz Francisco Rebello. Na sequência, o artigo de Valéria Castrequini (UNIESP/Ribeirão Preto) – “Interdisciplinaridade: teoria e prática” – repensa o conceito de “interdisciplinaridade”, associando-o diretamente à prática pedagógica em cursos de licenciatura, com enfoque no curso de Letras. O terceiro artigo, de Raquel Bevilaqua (UFSM) e Jacira Miolo Leal (UNIFRA), aborda “O documentário como ferramenta de ensino em uma turma de PROEJA: comunicação e cidadania”; no texto, as autoras discutem, com embasamento prático, o letramento de jovens e adultos no ensino fundamental. Em “A criatividade no ensino de línguas na formação superior”, Beatriz Pereira de Santana (FMU), Ernestina de Lourdes C. Frigelg (UPM) e Silza Maria Librelon Raia (FATEC/SP) trazem uma discussão pertinente à prática do ensino de línguas nos cursos de nível superior, com destaque à criatividade e ao multiculturalismo. Por último, temos o artigo de Maria Francisca Valiente (CPTL/UFMS) e Margarida Xisto da Silva Soares (CPTL/UFMS) – “As relações de poder/saber no documento: carta de apresentação do SAEMS – 2011” –, que traz uma análise crítica do documento oficial: carta de apresentação do Manual do Professor Aplicador do Sistema de Avaliação da Educação da Rede Pública de Mato Grosso do Sul (SAEMS) – 2011, investigando relações de poder e saber.
Na terceira parte da revista, aparecem três resenhas de obras literárias, sendo a primeira referente à obra O dom do crime (Marco Lucchesi – 2010), produzida por Alexandre de Melo Andrade (UNIESP/Ribeirão Preto); a segunda, sobre a obra As desaparições (Alexei Bueno – 2009), por Carlos Eduardo Marcos Bonfá (UNICAMP); e a terceira, sobre a obra Com certeza tenho amor (Marina Colasanti – 2009), por Raphaela Magalhães Portella Henriques (UNIESP/Ribeirão Preto).
Agradecemos a todos os contribuintes, entre articulistas e pareceristas, que colaboraram para este volume. Desejamos que estas leituras proporcionem reflexões, de modo a colaborar para novos olhares e novas discussões, tanto no âmbito da produção literária quanto da prática pedagógica das linguagens.
Prof. Dr. Alexandre de Melo Andrade.
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Travessias Interativas ➭ jul-dez/2011
n. 2 (2011)ARTE, EDUCAÇÃO, LINGUAGENS
É preciso animar-se para a sabedoria. A decisão pelo esclarecimento é um empre- endimento ousado que exige o abandono do seio da indolência, a tensão de todas as forças do espírito, a negação de muitas vantagens e uma perseverança de ânimo que se torna demasiadamente difícil para o mimado filho do prazer.
(F. Schiller).A chamada para o segundo número da Revista Travessias Interativas divulgou seu interesse em publicar artigos referentes ao tema “Arte, Educação, Linguagens”. Dessa forma, os artigos recebidos e aprovados pelo conselho editorial contemplaram abordagens que se relacionam a este propósito temático. Ainda que abrangentes, os setores ligados à arte, à educação e às linguagens nos impõem o desafio de pensar as relações existentes entre eles e as relações existentes em seu universo particular. Interligados por contextos culturais, tais setores nos permitem levantar aspectos críticos e teóricos, bem como avaliar a aplicação e a viabilidade de tais pressupostos no âmbito socioeducacional.
O texto de abertura – “O Infinito e a Flor Azul” – é um presente que nos foi ofertado pelo seu autor, Prof. Dr. Marco Lucchesi (UFRJ). Membro da Academia Brasileira de Letras, poeta, ensaísta e tradutor, Lucchesi é um dos grandes destaques da poesia brasileira contemporânea, com uma poética singular, de onde brotam iluminações e a busca pelo Todo: o Todo que é origem, o Todo que é fim. Seu texto aqui exposto retoma o poeta alemão Novalis, visionário do mito da Flor Azul, símbolo não só do Romantismo, mas da poesia em geral. Lucchesi se serve deste mito para abordar, aqui, questões como a matemática do universo... ou o universo da matemática... Fico lisonjeado e grato pela disponibilidade e gentileza de Lucchesi.
Os três primeiros artigos provocam reflexões sobre a educação, envolvendo questões que vão da prática escolar às práticas e problemáticas sociais. O primeiro artigo, do Prof. Dr. Matheus Marques Nunes, intitulado Notas sobre educação e a indústria cultural, faz relações entre o progresso e a sociedade massificada, tentando compreender os modos de vida decorrentes da racionalização tecnológica característica do capitalismo. O artigo seguinte, do Prof. Esp. Pedro Luís da Silva Costa – Democracia, cidadania e o dever de educação do Estado na constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – discute temas como democracia, cidadania, participação política e educação, partindo da Constituição Brasileira de 1988. Na sequência, aparece o artigo As dificuldades no ensino da matemática no Brasil, do Prof. Ms. Alexandre da Silva Mello, que discute, entre outros, o tema do fracasso escolar referente à aquisição de conhecimentos matemáticos, embasado em pressupostos teóricos e nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Os quatro artigos seguintes são da área de Letras, sendo um voltado a teorias linguísticas, e os outros três aos estudos literários. O artigo do Doutorando Silas Gutierrez, intitulado Análise textual da plasticidade em 3D, faz uma análise semiótica do recurso 3D, tão largamente explorado pela indústria cinematográfica, intentando um olhar sobre as leituras subjacentes a este recurso. Depois, temos o texto do Prof. Ms. Márcio Luís Souza-Marchetti, Adeus às armas e Nada de novo no front: similaridades e distinções do embate entre o “eu” e o “mundo”, onde discute as duas obras, de Ernest Hemingway e Erich M. Remarque respectivamente, por via de René Wellek e Georg Lukács, levando em conta princípios históricos, comparativos e literários. Em seguida, a Doutoranda Mariângela Alonso traz, com seu texto Clarice Lispector e a imprensa feminina na década de 50: Como matar baratas?, uma discussão sobre questões pouco exploradas pela crítica da obra clariceana, a saber, a trajetória de Clarice Lispector na imprensa feminina brasileira, o que acaba por revelar aspectos pertinentes à obra dessa escritora. O texto A moderna hesitação fantástica em “O pé da múmia”, de Gautier, da Mestranda Ana Carolina Bianco Amaral, apresenta uma análise do referido conto, fundamentada em teorias de Todorov, acerca das estruturas textuais e de questões como “hesitação”, “rompimento com o verossímil”, “leitor implícito” e “elemento sobrenatural”.
Por último, aparecem dois trabalhos de Iniciação Científica. O primeiro, intitulado “Visio”, de Machado de Assis: uma poética de transição, do Graduando em Letras Sandro Ponciano (sob orientação do Prof. Dr. Alexandre de Melo Andrade), traz uma leitura do poema “Visio”, que consta na obra Crisálidas, de Machado de Assis, tendo como objetivo apresentar aspectos representativos da obra poética machadiana. O segundo, da Graduada em Letras Raphaela Magalhães Portella Henriques, Autoritarismo versus submissão em contos maravilhosos de Marina Colasanti, parte de elementos teóricos acerca do maravilhoso, direcionando-os a leituras textuais da escritora Marina Colasanti, tendo ainda como aspecto de observação a relação homem-mulher em alguns contos.
Fica, aqui, nosso agradecimento ao conselho editorial da revista, pelo esmero na avaliação e seleção de artigos, e nosso desejo de que essas leituras suscitem novas discussões, interesses e práticas.
Prof. Dr. Alexandre de Melo Andrade.
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Travessias Interativas ➭ jan-jun/2011
n. 1 (2011)É com muita satisfação que apresentamos o primeiro volume das Travessias Interativas. Resultado de um esforço de nossos editores, a revista surge para enriquecer a comunidade acadêmica com propostas, pesquisas, diálogos e interações. Este número, que sinaliza uma sequência ininterrupta de muitas outras edições, possui tema livre. Todos os artigos são instigantes e apresentam desenvoltura argumentativa e coesa, tendo em comum o olhar criterioso sobre o tema pertinente a cada um deles.
O primeiro artigo, intitulado “Álvares de Azevedo na ficção sobrenatural brasileira”, da autoria de Alexandre de Melo Andrade, aponta para uma leitura de duas obras do escritor romântico brasileiro Álvares de Azevedo: Macário e Noite na taverna. Os apontamentos levam a uma discussão acerca da herança gótica e fantástica recebida pelo autor.
O segundo artigo, intitulado “Willian Wilson em O homem duplicado”, de Elaine Christina Motta, traz, comparativamente, aproximações e dissonâncias entre as obras Willian Wilson, de Edgar Allan Poe, e O homem duplicado, de José Saramago. Amparada por teorias acerca da paródia e do duplo, a autora faz uma investigação narrativa que desvela, ainda, modos de narrar e perspectivas modernas e pós-modernas da ficção.
Na sequencia, temos o artigo “Riso, Linguagem e Política nas manifestações dadaístas”, de Matheus Marques Nunes. Partindo do pressuposto de que o Dadaísmo corresponde a uma “luta contra as convenções” e um “riso contra os valores burgueses” – para usar palavras do próprio texto –, o autor levanta uma discussão que direciona o Dadaísmo a um universo onde a interrogação e o niilismo sejam os pilares de sustentação.
No artigo seguinte – “Para uma análise dialógica das comunidades virtuais” –, Silas Gutierrez provoca, em perspectiva bakhtiniana, uma leitura de espaços virtuais (mais especificamente sites de relacionamento) dispostos na mídia eletrônica instigadores de inter-relações, compreendendo tanto os aspectos da linguagem interativa quanto os associados à plasticidade do veículo.
Encerrando este primeiro volume, aparece o trabalho de Lílian Regina Peroni Grecco, resultado de seu trabalho de iniciação científica (Letras – UNIESP/Ribeirão Preto). Seu artigo, “Possíveis leituras do Amor em Folhas Caídas, de Almeida Garrett”, investiga aspectos temáticos e estilísticos que fazem de Almeida Garrett um escritor – embora de linhagem romântica – com estreito vínculo a uma poética classicizante.
Desejamos que estes estudos sejam o princípio de muitas e enriquecedoras travessias!
Prof. Dr. Alexandre de Melo Andrade.