A PROMOÇÃO DAS LÍNGUAS, A IDEOLOGIA DA PADRONIZAÇÃO E SEUS EFEITOS SOBRE O TALIAN
DOI:
https://doi.org/10.51951/ti.v10i22Resumo
Neste artigo, procuramos discutir as ações de promoção do talian e da identidade linguística e cultural que se busca atrelar a ele, com o intuito de perceber em que medida essas ações representam de fato os sujeitos envolvidos com essa língua. O talian é falado por descendentes de imigrantes italianos, foi reconhecido pelo IPHAN como Referência Cultural Brasileira e foi cooficializado em diversos municípios do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Nossa base teórica se fundamenta em ideais sobre o multiculturalismo (KUBOTA, 2004), a ideologia da língua padrão (MILROY, 2011), a língua como hipóstase (BAGNO, 2011) e a invenção das tradições (HOBSBAWM, 1997). Nosso corpus é composto por leis de patrimonialização e cooficialização de línguas. Buscamos compreender quais os conceitos de língua que estão presentes nessa esfera jurídica e que fundamentam certas políticas de promoção de uma dada língua e cultura “italianas”. Acreditamos que as políticas linguísticas em torno do talian, que em princípio têm como objetivo a preservação da uma cultura e de uma identidade, acabam por vezes caindo no paradigma da normatização e transformando a língua em artefato.
Palavras-chave: Talian. Políticas Linguísticas. Normatização. Cooficialização. Patrimonialização.
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