NASTÁCIA FILÍPPOVNA À LUZ DA TESE HEGELIANA DO HERÓI

Mariana Lins Costa

DFL-UFS


Résumé

Resumo: Nastácia Filíppovna é a heroína do romance O idiota, publicado por Dostoiévski entre 1868 e 1869. Nas últimas páginas desta obra de grande fôlego, quase quando já completamente enlouquecida, ela é assassinada pelo seu então recém-marido Parfen Rogójin, depois de ter oscilado, na parte final do romance, entre casar-se com ele e com o Príncipe Míchkin, o idiota que dá o nome ao título, protagonista do romance. Míchkin, o príncipe salvador bondoso, algo celestial, eterna-criança e, ao mesmo tempo, idiota no sentido médico do termo; com o qual, conforme suspeitam não poucos leitores, se a desventurada Nastácia tivesse escolhido casar-se teria sido salva do aniquilamento atroz, porque injusto e terrível. Quando, factualmente, na obra, a verdade é que ambos, assassino desvairado e príncipe idiota, terminam abraçados ao lado do corpo ainda fresco de uma Nastácia morta com uma única facada, precisa, embaixo do seio esquerdo, enquanto lia, com a camisola de núpcias, e portanto no coração. Que nas últimas linhas o assassino em delírio e aos berros seja afagado e consolado pelo príncipe em estado de idiotia irreversível é uma indistinção da duplicidade repleta de significado. Até porque Nastácia
Filíppovna é representada no livro como encarnação da própria beleza e, portanto, como ideal – o que, em Dostoiévski, tem significado filosófico. Como de praxe entre os intelectuais russos da sua época, a estética hegeliana é referência central e, em especial, o seu conceito de ideal que designa a manifestação sensível do absoluto, quando o concreto e singular é capaz de expressar o abstrato e universal, o belo propriamente dito, que no plano do mundano e humano, transparece sob a forma do herói.
Palavras-chave: Nastácia Filíppovna; Dostoiévski; Hegel; Ideal; Herói; Mulher

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