BACON E OS ARTÍFICES DA MEMÓRIA
Edmilson Menezes Santos
UFS/CNPq
Résumé
Resumo: A modernidade, em especial o século XVII, identifica determinados usos da memória que merecerão um reexame do emprego de suas funções [falamos mais especificamente de uma arte da memória], destituindo aquela faculdade de seu aspecto mágico, sobrenatural e classificando-a entre as competências intelectivas cujo papel é associado a certa potência cognitiva. Embora considerada uma faculdade que abrange um conjunto de funções ativas, características dos seres viventes, uma resposta funcional, e, muitas vezes, complexa, que permite a organização da ação, a memória recebe, conforme Bacon, um tratamento que limita e, em muitas ocasiões, coloca essa capacidade numa posição puramente exuberante e, por isso,seu campo de atuação descamba num ornamento do espírito muito mais do que numa faculdade que retém o passado como tal e pode restituí-lo, voluntariamente, sob a forma de lembranças precisas, determinadas e situadas. Nesta direção, o objetivo é apresentar o exame feito por aquele filósofo do emprego de tão importante fonte cognitiva a partir de uma arte da memória, de forma a indicar como a avaliação da retórica e do hermetismo acaba por revelar as insuficiências de uma adesão, por afinidades, daquela faculdade a estes dois tipos de empreendimentos de base mnemotécnica. Os artífices da memória, reduzindo as técnicas da arte da memória ao nível das insídias retóricas e mágicas, mostram-se inconciliáveis com o projeto baconiano de uma scientia universalis, mater reliquarum.
Palavras-chave: Bacon; Memória; Arte da memória; Hermetismo; Retórica.