DRUMMOND E OS “NOVÍSSIMOS”
UMA INTERPRETAÇÃO CÔMICA DE “TARDE DE MAIO”
DOI:
https://doi.org/10.32748/revec.v9i22.19463Resumo
Neste breve artigo tentarei desvelar os motivos cômicos implícitos no poema “Tarde de Maio”, de Carlos Drummond de Andrade. A despeito do tom trágico que caracteriza o poema, é provável que Drummond tenha feito uso retórico do tom de súplica a um ente divino para, com esse gesto cênico, arremedar comicamente o estilo poético próprio dos poetas puristas, representados, naquele período da poesia brasileira, pelos jovens poetas da Geração de 1945, os autodenominados “novíssimos”. Afinal, era recorrente que aqueles jovens acusassem Drummond de copiá-los e plagiá-los. O poeta mineiro, então, escreveu “Tarde de Maio” no intuito de imitar o estilo da poesia pura praticado pelos “novos”, porém, não o fez por reverência, mas como um cômico que se põe a ridicularizar seus oponentes. Para provarmos essa hipótese de leitura, inicialmente, apresentaremos algumas evidências textuais que nos permitirão desvelar o significado enigmático da expressão “tarde de maio”. Explicado sentido da expressão, poderemos compreender porque Drummond, no poema, denominou os “novíssimos” de “primitivos”. As evidências textuais aqui apontadas são as seguintes: i) a expressão “tarde de maio” foi preconcebida por Drummond numa crônica intitulada “Aos Nascidos em Maio” (publicada em maio de 1948); ii) a estrofação do poema, dividido em quatro estrofes com nove versos cada uma, foi inspirada na cosmologia camoniana das esferas, o que revela a unidade cosmológica entre “Tarde de Maio” e “A Máquina do Mundo”; iii) ao lermos o artigo “Poesia de França” (publicado em junho de 1948) podemos concluir que “Tarde de Maio” foi escrito para parodiar os cacoetes da poesia pura bremondiana e claudeliana; iv) ao longo do poema, Drummond aludiu ao quádruplo simbolismo claudeliano (pírico, aquático, aéreo e telúrico). Por isso, antes de consumar “Tarde de Maio”, o poeta traduziu um poema de Paul Claudel (“O Crucifixo”) e o publicou
no jornal A Manhã, em abril de 1949; v) o poema de Drummond, ao que tudo indica, foi ironicamente inspirado no tom rogatório de um samba-canção também intitulado “Tarde de Maio”. A canção, gravada em 1949 pelo cantor Sílvio Caldas, tem o mesmo tom de rogo a um ente divino desenvolvido no poema.
Palavras-chave: Drummond, Tarde de Maio, Geração de 45, Poesia Pura
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