Burla, controle de si e disfarce da comensalidade: as maneiras de comer sem glúten e sem lactose em Porto Alegre
DOI:
https://doi.org/10.21669/tomo.vi38.13837Palavras-chave:
Gosto, Estilo de vida, Consumo alimentar, Glúten, LactoseResumo
A alimentação contemporânea é marcada pela afirmação de preferências alimentares que tensionam e transfiguram as práticas “tradicionais” de refeição compartilhada. Este artigo tem por objetivo investigar os sentidos atribuídos às práticas alimentares e os marcadores sociais em narrativas de indivíduos adeptos de dietas livres de glúten e/ou lactose residentes em Porto Alegre. Foram realizadas treze entrevistas em profundidade, além da observação assistemática de blogs e fanpages de celebridades referenciadas pelos entrevistados. Uma economia psíquica, de caráter disposicional e contextual, vigora nas sociabilidades por meio de intenso autocontrole e de mecanismos de burla. Estes são mobilizados a fim de escapar das convenções sociais, pesando sobre juízos de gosto, nos quais por vezes também operam marcadores de distinção social.
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