O amor ao desprezo e o desprezo pelo amor
DOI:
https://doi.org/10.51951/ti.v14i30.p182-201Palavras-chave:
Godard. Moravia. Plínio Marcos. Desprezo. Dialogia.Resumo
O desprezo é índice do amor que se quer conquistar e do amor que desapareceu e talvez seja mais próximo do ato amoroso que o próprio ódio, visto que desprezar é fazer o outro sofrer diante de um silêncio que ignora e que esfria toda a paixão. Esta comunicação busca perscrutar o amor ao desprezo e o desprezo pelo amor em Homero (Odisseia, VI-VIII a.C, episódio XVIII), Alberto Moravia (Il disprezzo, 1954) e em Plínio Marcos (Navalha na carne, 1967). O ponto de convergência da análise literária desembocará no filme Le mépris (1963) de Godard, que adaptou não somente o romance de Moravia, mas também a citada épica homérica, nomeadamente a perspectiva de Penélope sobre o seu (des)amor por Ulisses diante de sua ausência prolongada. O tema do desprezo amoroso em Plínio Marcos é central em várias de suas peças e parece ainda não ter sido julgado criticamente em toda a sua extensão, sobretudo pela conexão já estabelecida entre o dramaturgo brasileiro com parte da obra moraviana, posto que tem sido frequente os nexos muito bem anotados criticamente da peça Dois perdidos numa noite suja (1966) com o conto “O terror de Roma” (1954) de Moravia. Contudo, ainda parece haver espaço relevante para articular reflexões críticas sobre a temática do desprezo em outras peças plinianas, de modo que para esta análise elegemos Navalha na carne como eixo comparativo privilegiado. A aproximação teórica inicial será conduzida com base nos estudos de Enedino e Vieira (2022), Vieira (2021), Assunção (2011), buscando conectar o filme aos textos literários sob uma ótica dialógica. Embora não esteja citado diretamente, Bakhtin orienta nosso olhar dialógico neste ensaio.
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Referências
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Filmografia citada
LE MÉPRIS. Direção de Jean-Luc Godard. Paris: Les Films Concordia, 1963. 1 DVD, Colorido, 35 mm, 105 min.
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