OS DOIS ANDARES DO PENSAMENTO
A ESTÉTICA DE DELEUZE EM A DOBRA
Manoel Heleno da Cruz
William de Siqueira Piauí
Resumo
Com a finalidade de expor a questão de como devemos imaginar adequadamente uma estética deleuziana, precisamos fazer mais do que elencar os escritores, pintores, cineastas, compositores e músicos aos quais seus textos frequentemente se referem, cujas obras estão intimamente ligadas a muitos conceitos de Deleuze, se pensarmos, por exemplo, nos povos menores de Kafka, na máquina de guerra de Kleist, ou na lógica das sensações de Bacon. Não podemos, também, nos contentar apenas com apontar as preferências de Deleuze para certos períodos ou estilos de época, como o Barrocoou a Arte Moderna. Descobriremos que, para colocar a questão adequadamente, teremos que reconsiderar o que normalmente é chamado de estética e sua suposta relação com a arte. Ao abordar a questão da estética deleuziana em seu ensaio Existe-t-il une esthétique deleuzienne? (1998), Jacques Rancière traz à tona o debate sobre essa seara, ponderando sobre a nossa compreensão de estética, descartando a visão amplamente difundida sobre o tema, segundo a qual a estética – elevada à categoria de disciplina por Alexander G. Baumgarten em meados do século XVIII, e moldada ao longo do século XIX na esteira de importantes influências como a Primeira e Terceira Críticas de Kant, a filosofia idealista da arte de Schelling e a história da estética de Hegel – é geralmente subestimada e praticada como uma filosofia da arte e das experiências subjetivas do prazer e do descontentamento que a arte evoca.