A cegueira da lei e os corpos vulneráveis
interseccionalidade como chave de justiça e crítica ao universalismo jurídico
Palavras-chave:
direitos humanos, interseccionalidade, vulnerabilidade, desigualdade, linguagemResumo
Este artigo realiza uma análise crítica da atuação do sistema jurídico brasileiro frente às múltiplas formas de vulnerabilidade, com ênfase na linguagem jurídica enquanto tecnologia de exclusão e poder. A partir de uma abordagem interseccional, são examinadas as articulações entre raça, gênero, classe e outras opressões na produção normativa e institucional do direito. Argumenta-se que a pretensa neutralidade da linguagem jurídica contribui para a invisibilização de sujeitos historicamente marginalizados e dificulta o acesso equitativo às garantias legais. Desta forma, a pesquisa busca apontar que a superação dessas desigualdades passa pela reconfiguração ética da linguagem do direito e pela transformação da formação jurídica tradicional. Defende-se, assim, uma educação jurídica comprometida com a justiça substantiva, capaz de formar operadores sensíveis às interseccionalidades e à pluralidade de corpos e vozes que o direito historicamente ignorou.
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