n. 17 (2019): Travessias Interativas ➭ jan-jun/2019

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O Dossiê “Texto, discurso e livro didático” destina-se a contribuir com as práticas pedagógicas de professores de língua portuguesa que estejam preocupados em qualificar as propostas de ensino desenvolvidas na educação básica. Nesse sentido, foram reunidas reflexões realizadas em diferentes partes do Brasil com o intuito de colocar em destaque a diversidade das pesquisas em Educação e Letras em curso no território nacional.

O leitor deste número especial da revista Travessias Interativas terá, então, a oportunidade de conhecer as discussões e sugestões de professores, mestrandos, mestres, doutorandos e doutores que têm se dedicado ao estudo de aspectos relacionados ao trabalho com leitura, conforme as atividades propostas por livros didáticos ou a partir de práticas organizadas por professores para as turmas nas quais atuam. Também encontrará alternativas para realizar ações didáticas com base em histórias em quadrinhos, em anúncios publicitários, em minicontos e com gêneros textuais emergentes. Além disso, poderá aprofundar a compreensão acerca do papel do livro didático no ensino de língua portuguesa, especificamente em relação às atividades de produção de texto, de ensino de ortografia e de trabalho com a oralidade.

Os artigos que têm o livro didático como objeto de investigação, alinham-se às pesquisas realizadas no Brasil desde a década de 1960, em diferentes campos (Letras, Educação, Linguística Aplicada, História, entre outros), e enfrentam a complexidade que essa tarefa impõe, não no sentido de ser difícil ou complicado, mas por exigir a assunção de um ponto de vista epistemológico que se diferencie de uma lógica da totalidade, uma vez que constatam a multiplicidade de perspectivas de compreensão dos conceitos mobilizados pelos manuais escolares e a variedade das ações de professores que atuam em diferentes segmentos de ensino. Agrega-se a esse esforço a preocupação relativa às funções dos livros didáticos na sociedade e observação do impacto das demandas sociais em relação a um material que também é considerado um produto de consumo.

Outro aspecto que merece destaque é que os autores dos artigos se preocuparam tanto com a perspectiva docente quanto discente, ou seja, os textos articulam os propósitos dos professores aos resultados alcançados pelos estudantes, o que reforça a impossibilidade de um material ser considerado perfeito ou válido per si, visto que as práticas pedagógicas precisam estar, necessariamente, alinhadas aos diversos contextos educacionais.

Trata-se, assim, de publicações que convidam à leitura de análises e à partilha de experiências que estão circunscritas às pesquisas proporcionadas pelo Programa de Mestrado Profissional em Letras (Profletras), financiado pela CAPES, bem como de pesquisas desenvolvidas em outros Programas de Pós-Graduação, que querem colaborar com a qualificação dos processos de ensino-aprendizagem em todo o território nacional.

Késia Suyanne Lima e Patrícia Escóssia, em A compreensão leitora no livro didático de LP, mostram como é tratado o ensino de Língua Portuguesa, por meio da leitura, em atividades de compreensão textual em um livro didático de Língua Portuguesa (LP) do Ensino Fundamental em compreensão leitora no livro didático de LP. As autoras investigaram a categorização das perguntas nos exercícios de leitura, à luz da matriz de referência do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), a fim de saber se eles contribuem para a formação de um cidadão mais crítico e socialmente participativo.

A discussão relativa à pertinência das atividades de leitura de livros didáticos tem seguimento com o artigo Livros didáticos: uma reflexão sobre propostas de leitura de textos, de Ana Paula Sahagoff. Com foco no alinhamento das atividades aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a autora avalia a alusão a algum gênero discursivo e a explicitação das condições de produção a fim de compreender o lugar da dimensão discursiva/comunicativa na leitura de textos. A análise realizada aqui indicou que as propostas estão alinhadas aos PCN, permitem o diálogo do estudante com os textos, uma vez que as experiências do leitor podem ser associadas às informações fornecidas por cada material.

O artigo Quando o exercício de leitura não ensina a ler: atividades de leitura no livro didático para anos iniciais da escola do campo, Rita Bottega e Jaqueline Schlindvein apresentam a análise de atividades de leitura de um texto de um livro didático do 3º ano do ensino fundamental, usado em uma escola do campo de um município do oeste do Paraná. O trabalho em tela apontou, entre outras coisas, discrepância entre a proposta da unidade e do texto e desorganização em relação aos níveis de leitura.

Na sequência, Iderlânia Souza, Isabel Azevedo e Sandro Marengo, no artigo A construção de inferências no ensino fundamental: a diversidade de leituras possíveis, propõem colaborar com a construção de inferências socioculturais por estudantes do 7º ano ensino fundamental. A pesquisa realizada no âmbito do Profletras permitiu aos estudantes compreender os sentidos de exemplares de diferentes gêneros textuais, conforme os resultados comparativos obtidos em um pré-teste e um pós-teste, aplicados antes e depois de realização de uma oficina elaborada pela professora. Constatou-se ainda que o desenvolvimento desse tipo de trabalho requer a consecução de atividades específicas, que, ao partir dos conhecimentos prévios dos discentes, possibilitam ampliar o entendimento de textos.

Denise Cardoso e Maria de Lourdes Almeida, à luz de uma perspectiva que busca integrar leitura, escrita e avaliação, materializam em História em quadrinhos: ferramenta para leitura e escrita de texto na sala de aula de língua portuguesa a construção de propostas didáticas que trabalhem leitura e escrita a partir de HQs, no ensino fundamental, como possibilidades de articulação dos conhecimentos de elementos linguísticos com os de textualização e pragmáticos.

Em Anúncio publicitário na escola: uma proposta de leitura crítica, Ângela Maria Menezes e Taysa Damaceno, do Profletras da Universidade Federal de Sergipe, campus São Cristovão, apresentam a elaboração de uma proposta de intervenção, tendo como suporte um Caderno Pedagógico, com a intenção de conduzir os alunos a uma leitura mais consciente e crítica desses de anúncios publicitários.

Em seguida, o artigo Gêneros textuais emergentes das tecnologias no discurso de livros didáticos analisa a evolução do espaço dedicado aos gêneros textuais digitais e sua utilização no livro didático de língua portuguesa do Brasil mais adotado no ensino fundamental, propondo uma reflexão para o uso desses gêneros, desde a concepção original à sua aplicação em atividades educacionais. A autora Josiane Cani pauta seu artigo nos estudos dos multiletramentos, nos gêneros como ação social e nos gêneros textuais emergentes das tecnologias digitais.

No artigo Leitura de minicontos e sugestões para atividades em sala de aula, o gênero discursivo miniconto é apresentado como instrumento em atividades de leitura para alunos do ensino fundamental e médio. Júlio César Santos e Vânia de Moraes desenvolvem um estudo sobre o gênero miniconto com vistas à sua utilização em atividades de leitura privilegiando uma abordagem sociocognitiva.

O trabalho com a produção textual no livro didático de português a partir dos gêneros textuais é o tema de A produção de texto a partir de gêneros no livro didático de língua portuguesa: uma análise contrastiva. Este artigo de Karla Bertotti e Sandra Maria Alves busca perceber as abordagens teórico-metodológicas para o tratamento da produção de textos em livros didáticos de língua portuguesa.

No artigo Relação entre oralidade e escrita: uma análise do LD novo girassol sob a perspectiva da fonética e da fonologia, Joyce Lima e Vanessa Nunes analisam o livro didático de língua portuguesa do 1º ano da coleção Girassol – Saberes e Fazeres do Campo (PNLD), adotado em todas as escolas dos povoados do município de Laranjeiras – estado de Sergipe, no que concerne à consciência fonológica, tendo em vista sua relevância nas séries iniciais.

A capa do livro paradidático: discursos editorial e didático em uma obra da FTD também é tema de reflexão, no artigo de Flávia Granato e Matheus Schwartzmann, autores. As autoras afirmam que a capa de um livro pode ser entendida como a materialização de um ponto de contato entre um enunciador complexo e um enunciatário-leitor pressuposto, marcado por valores editoriais, escolares e mercadológicos. Neste artigo, são analisadas as estratégias discursivas e os recursos verbo-visuais que modalizam o enunciatário-leitor por um querer fazer, reconhecido, no nível do discurso, como um querer ler.

Ao finalizar este número especial, o artigo Produção textual no livro didático: gênero textual ou gênero discursivo, escrito por Rafaele Almeida Soares, compara as propostas de produção textual escrita em dois livros didáticos de língua portuguesa do 6º ano do ensino fundamental - Singular & Plural - leitura, produção e estudos de linguagem e Projeto Teláris: Português – a fim de investigar como os gêneros são trabalhados com relação ao campo da comunicação discursiva, aos interlocutores e às suas condições específicas (conteúdo temático, construção composicional, estilo). Os resultados apontaram que não há coerência teórica-metodológica nos livros didáticos analisados, embora possam ser encontrados indicativos de esforços voltados a um trabalho com gêneros discursivos.

Esperamos que esse conjunto de artigos possa ser mais uma forte contribuição no diálogo voltado para as práticas pedagógicas de professores de língua portuguesa e que sigamos nesse diálogo de aproximação da Universidade com a educação básica. Que tenham todos uma boa leitura!

Os Organizadores

Publicado: 05-08-2019

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